segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Procura-se Uma Pátria

Procuro uma pátria,
Para me sentir apegad@.
Mas qual seria ela, "salve-salve"?

A minha pátria é o meu prato.
Pátria que pretendo colorir
De trabalho -
De feijão, arroz, farofa, legumes,
Bife a cavalo,
E um copo de suco ao lado.

Pátria que eu pretendo beber,
E não que me tome para morrer
Afogad@.
Que não me sugue o sangue e suor,
Que não me seque embriagad@.

Pátria que seja o meu pasto,
E que não me faça de gado energúmeno
E marcado.

Pátria em que eu pretendo não me ferir
Se espetar o garfo.
Que a colher não cave um buraco.
Pátria que não parta se passar a faca.
Pátria que depois do meio-dia não vomita -
Em minha cara -
Um nada.

Mas a minha pátria é mais que água e pão.
É o meu pai. É a minha "pãe".
Pátria que me pariu,
E que continua parindo a cada dia
Ou instante,
Para me manter,
Pare elefantes.

Essa minha pátria...

É incessante -
Devora leões,
Mesmo que a seco.
Pois foi no seco 
Do choro estridente
Que a minha pátria viu
Eu me tornando gente.
E foi no seco de gentilezas
Que virei indigente.
Pois quem me sente?

A minha pátria?

Faço da minha pátria
Da mesma maneira que me faço.
Faço da minha pátria o meu peito
Em sacrifício,
As minhas mãos em ofício,
As minhas lágrimas no omisso...

Afinal, quem nunca chorou pela pátria?
E a pátria chora por mim?

Chora lágrimas de suor...

Chora o meu corpo, chora outro
Que poderia ser a minha pátria:
O sol!
Meu, mas de todos...

A minha pátria não será essa bandeira.
Não enquanto não me der bandeira.
Nem cartaz.
Pois isso sou eu, O POVO,
Que faz.

Minha pátria não é só um braço forte,
É uma mão sensata! 
De mim não dou (nem arredo) o pé, 
Tampouco a alma.
Minha pátria é a camisa que visto -
Aquela suada!
A minha pátria está nua,
Pois mostro a minha cara!


- Júlia S.



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Frutífera

Da última gota,
Ficou seca.
Afogada no sangue
De sua polpa
Não poupada.
Forjaram-na
A não ser mais
A mesma.
Ou não ser ela mesma.

Sugou. Murchou.

Seu suco foi usurpado -
Até a última gota -
E vomitado.
Vômito jogado
Tanto como ela se jogara
No liquidificador -
Sem culpa.
De tanto gelado,
Essa fruta não conhecia
Mais o calor.

De tão bicada,
Chupar aquela fruta
Ninguém queria;

De tão apalpada,
A fruta já estava amassada.
De tão amassada,
Sua casca não valia -
Estava coberta por uma tez 
Rasgada de feridas.

De descascada,
Aquela fruta
Era macia.
Mas não era sua.

De tão babada,
Aquela fruta
Se lambuzara
Era e/ou estava
Suja.

De suja,
Lhe foi tirada
A merda dita,
Sob a pia.

Aquela fruta de tão picada
Foi reduzida a uma papa.
De tão chupada, foi reduzida
A um caroço que não germina.

De passada a faca,
A fruta já não tinha
Mais passado nem pesar
Por ser partida.

Por estar passada,
Aquela fruta
Já não renasce
De uma flor;

Aquela fruta não frutifica.
Vegetou -
Pode passar por ela,
Que não sentirá mais dor...

Nem primavera.

Aquela fruta já passou...
De sua época.

Aquela fruta já não é mais
Dela, não é de flores,
Nem de floresta.

É de (te) mato!

É de caída e atropelada,
No asfalto -
Foi para a pista.

Essa fruta só pode
Render frutos.

Será?

Da última gota, ficou seca...

E essa fruta em pomar?
Essa fruta em poema,
Essa fruta pura,
Essa fruta puta...
De poesia?

Essa fruta não está frita;
Elá é estéril de estupro.
Essa fruta, doce ou cítrica,
Descarrega do seu ventre todo o luto,
Com as sementes plantadas neste chão
Até a altura - por raízes, troncos, MÃOS...
Pelas frutas!


Frutas frias,
Ou que nasceram com
O  verão em seu primeiro dia.
Frutas mordidas em sabor -
Dilaceradas não mais...
Frutas de amora,
De amor, amores...
Frutas de "amorais"!
Frutas vermelhas,
Amarelas ou pretas!
Frutas graúdas, 
Ou que sejam
Miúdas!

E isso não é uma feira.

Regadas,
Não mais renegadas;
Polinizadas, não mais
Policiadas -
Frutas!
Frutíferas!



- Júlia S.