terça-feira, 18 de junho de 2013

Patológico

Meu amor nunca foi doença,
Talvez um dia doentio;
Mas se não quiseres me curar,
Eu sei que sobrevivo.
Eu simplesmente só o vivo,
Se eu o quiser, quiça.

Nunca foi pecado
Esse meu amor.
Quem sabe um dia
Apenas fora um reles e
Coitado pecador.

Mas para ele há
Perdão!

Pois meu amor não dá febre,
Tampouco infecção.
Apenas fere, esse (não essa)
Peste, 
Abrindo um buraco vazio,
Pela dor preenchido.
Mas eu o quero vivo.
Se você não o benzer,
Em esse seu 
(Contra)dizer,
Garanto eu
Não falecer.

Mas o meu amor não é comportamental,
Tampouco ideológico;
Simplesmente ele é amor, não amoral -
Sim, tão óbvio!
Se você não examiná-lo -
Apenas fazer exame de vista
E enxergá-lo -
Não irei a esse óbito
(Desista)
Tão ilógico.

Tu que portas de uma doença torta,
Que parece crônica -
E desacordada com a cronologia.

Meu amor nunca matou,
Talvez apenas se suicida.
O que mata, sem pudor, é
A sua doença - essa tal
De homofobia.
Homicida.

E, cara, o meu amor
Não é conceito.
Nem peça rara.
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse o
Preconceito.
Pois o amanhã já houve -
E junto com ele o hoje,
Meu amor.

(E por favor, vê se ouve, 
É homossexualidade,
Não homossexualismo!
Assim como racismo não é
Racionalidade.)


- Júlia S.






sexta-feira, 14 de junho de 2013

V de Vingança (?)

Mulher livre de mim, de ti, deles ou delas;
Em si presa, de corpo, alma e cabeça
Com seus deleites e ideias.
Mulher que passa e não é passada
Ou não se passa,
Por meses e primaveras;
Marcada assim, por suas pelejas e belezas
De sua era, 
De clarezas, negras, e tão sérias.

Prazer, sou eu,
VADIA,
É ela.

Veja só sua cicatriz!
Mas merece! Faz por onde,
Meretriz essa,
Que não se esconde.

Cidadão que luta pelos seus direitos,
Nunca em cima do muro
(Do lado esquerdo).
Preenchendo o furo onde
Já se furou,
Tocando (no) fogo onde já
Se queimou;
Mas que no fundo só quer aquele
Chavão
De paz e amor,
Esse cidadão
Tão redentor.

Prazer,
VÂNDALO,
Ele é 
E eu sou.

Veja a bala de borracha!
Apagando sua luta
E essa tal de ideologia.
Quem apaga sua dor?
Não me interessa nada...
Maldito feitor
Dessa patifaria!

Olha só como ele é sensato,
Despido de preconceito,
Avesso a esse
Sentimentalismo exato.
Virando do avesso
Esse fundamentalismo
No sem base baseado.
Jamais fica bêbado,
É um boêmio embriagado.

Pois então me atrevo,
A dizer que ele é um
Baita dum
VIADO!

Olha só como rebola
Esse seu ativismo de boiola.
Olha só como ele olha,
Para um benquisto macho
Dando bola.
Olha só como se arruma,
Independente de tal hora.
Mas não se apruma, dessa viadagem
Tão incógnita.

Sou um V de vingança?
Não, quiça sou V
Aquele, de "Vai sempre
Haver
Esperança".
Sou mais que
"Vários rótulos";
Esses mesmos
Sem Verdadeiro
Propósito.
Um derradeiro
Ilógico.


- Júlia S.







quinta-feira, 13 de junho de 2013

Um Breve Reles Conceito e Respeito Sobre Solidão

Me vê um copo
E um pires com calmantes;
Pois se triste, me descontrolo,
Me asfixio em vapor de lágrimas
Errantes e navegantes em minh'alma,
Me afogo em mar de solidão,
Calada,
Auto-sufocante e distante.

Só quero um copo.
Pois senão...

Caio em pé,
Isolada,
No meio
De quaisquer
Multidão.

Pois não há solidão pior,
Que aquela acompanhada;
Não há perdição maior,
Que aquela sendo muito achada.
Não há descontento em paz,
Sendo contemplada.

Necessito ficar sozinha,
Um pouco na minha,
Para não perder nessa
Massa, essa
Tal minha.

Quero um copo,
Não uma pinga.
Não quero aguardente,
Quero solamente antes
Do só lamento.

Não quero ocasião,
Quero acaso, 
O meu momento;
Que não aquele de
Chamar atenção
Como um palhaço.

E por favor,
Um pires ao lado -
Quero comprimidos,
Não compromissos,
Nem esses distorcidos
Emaranhados...

Me vê, mas me deixe...
Vagar na rua, enquanto faço
De conta que sambo na lua.

Deixe-me passar do estômago
Para a cabeça,
Tantas essas borboletas.

Deixa eu tentar me descobrir,
Antes que você faça isso por mim,
Entenda por si
Todo esse mimimi;
Fodam-se
Com tanto (quanto!) tititi.
E...
E eu.


- Júlia S.






quarta-feira, 12 de junho de 2013

Se Eu Fosse Um Aviãozinho de Papel

E quando eu for um aviãozinho de papel,
Singelo sob um manual cruel,
Quero que você me dobre,
Quero que me dependure um anel;
Quero que você me cole
Meus detalhes tão frágeis,
Cada pedaço sem sorte;
Quero até que pegue um lápis
De cor,
E que me escreva e colore;
Quero que aos poucos,
Com amor,
Me faça de poesia e adorne.

Se de tanta asa, todavia,
E origami, 
Voei ou sei
Voar, querer hei
De ter a chance -
Fazer minhas nuvens
Com qualquer chumaço de algodão,
De viajar em qualquer escala
Ou conexão,
Sem nexo ou escada,
Estrada sem chão,
Entrada sem noção
De parede, em rede armada
Sem caber colchão e gente inerte 
Deitada.

Pontes aéreas,
Jamais muralhas.

Voada em cada rede tecida
De balancê,
Flutuando em cada fumacê,
Neblinada em cada chumaço
Forrado de aço
Desse fumaço.

Você (espero) vai entender,
Cada pena (esmero) de pássaro,
Cada cinza de cigarro.
Um fogo aceso inapagável.
Um voo mereço, impagável.

Sou eu sendo a voadora
Em meu papel voador;
Me faça como for,
Mas me deixe me desfazer
E me recompor,
A mercê disso
Que eu sou.

Dor com dó, dó com amor.
Vou com só, solo eu voo,
Sob o sol, com por.



- Júlia S.




Essa (Não) É pra Você

Ei, você aí,
Que comprou o seu carro
Quitado
4x4
Parcelado,
Cada tostão
Suado,
E agora se refresca
Em ar-condicionado;
Não, não é para você.
Sinto muito pelo trânsito
Em transe transtornado,
Se vai a castigo de seu ordenado
Por caminho infernizado
Por buzinas e pneus queimados.
Essa não é para você,
Sinto muito pelo fumacê,
Por esse rotulado "vandalizê".

Ei, você aí,
Que paga cursinho,
Que brinca de burguesinho,
Que se passar vai ganhar
Aquele carro zerinho,
Que quer fazer medicina,
Direito, ou engenharia -
Igual ao papaizinho;
Mas essa não é para você,
Sinto muito,
Meu caro
Mauricinho.

Ei, você aí,
Com PLENO direito de ir e vir,
Sem haver alguém para te violar
Ou invadir;
Não exposto a uma violência
Cotidiana, como seu usual
Carimbado em sangue souvenir; 
Sua macheza colocada como pingos
Nos i's;
Mas isso, isso não é
Para ti.
Sinto muito,
Meu bibi,
Pela igualdade
Assim e sem
Enfins,
Afins e
Sem fim;
Por quem for,
Por mim.

Ou nem sinto,
E daí?
Sinto, mas
A sorrir.
Achismo, a persentir,
Eu te sinto -
Mas sucinto,
Sinto muito,
Por ressentir.
Por quem for,
Por ti.


- Júlia S.









terça-feira, 11 de junho de 2013

Maresia

Deixo me envolver
Pela maré tão alta
Que foge do alcanço
De meus dedos;
Ludibriada diante dessa
Demonstração de tal
Desapego.

Tiro suas conchas
E lixos,
Molho minhas coxas 
E nesse retiro
Vomita um vômito
Do mito -
Nos mesmos dedos;
E finge sondar meus
Ouvidos.

Som dar
De ondas
De mar.
Sondar.

Eu Lírico,
Prazer,
Seu Infinito!
Que
Me afoga em meu próprio
Suicídio;
Me desfoca em meu ócio
Omisso, me causa desvio
Havendo lugar óbvio de
Destino.

Em imensidão, imerso;
Em singular, singelo;
Em meu mundo, universo.

Pedaço que peço,
Bala que levo,
Belo que fica;
Alma lavada,
Vida vadia,
Corpo sujo
De tez salgada,
Areia marcada
De beleza machucada,
Peleja passada
Em peneira mareada;
Peleira assada.

Mar imundo
De desilusões
Da alma;
Coração sem fundo
Afundado em sal
E água.
Ardendo em cicatriz viva,
Adornando diretriz sem saída
Ou morta.
Células epiteliais dilaceradas
Pelas rochas
Sinceras, geladas e remotas. 


- Júlia S.






A Favor Pero No Mucho

Nada contra os GLBT, MAS...............................

- Não os contrataria; vai que molestam os meus filhos!
- Relações homossexuais vão contra a natureza.
- Tenho vários amigos gays, mas enfim...
- Não aceitaria que meus filhos fossem do babado.
- Não aceitaria que meus filhos fosse do babado, para eles não sofrerem.
- Respeito desde que estejam longe de mim.
- É nojento.
- Como vou explicar para os meus filhos isso?
- Acho um desperdício.
- O ânus não foi feito para isso!
- Diz na Bíblia que é pecado.
- Querem ser moderninhos e/ou alternativos demais para o meu gosto...
- Essas mulheres se beijam para chamar atenção, porque homem tem fetiche.
- Mulher que gosta de mulher só está seguindo uma modinha; é hetero!
- Homem que gosta de homem não tem coragem de se assumir; é homo!
- Bissexual é conversa, claro que é um ou outro.
- Se eu pego aquela lésbica, ela num instante aprende a gostar de um pau.
- Se ele não quer me comer, é gay.
- Não tenho nada contra, desde que não seja afetado.
- Gay afetado só quer chamar atenção.
- Ser travesti já é ridículo.
- Sempre será apenas um traveco.
- Eles querem ter mais direitos que os heterossexuais.
- Se acham superiores.
- Às vezes provocam para apanhar.
- É só um comportamento, claro que tem cura.
- É melhor se afastar, vai que pega.
- Filhos adotados só podem se traumatizar e serem infelizes.
- São promíscuos.
- Trabalho de travesti é fazer programa.
- Doença de gay é AIDS.
- Claro que não são iguais e nunca serão.
- Não é normal.
- Não precisa ser assim.
- Ela é muito feminina pra ser sapatão.
- Duas mulheres se beijando é para ter homem no meio!
- Não quero que os meus filhos vejam isso.
- Não quero que os meus filhos aprendam isso.
- Homem vaidoso e cuidadoso é sempre gay.
- Mulher que não se depila é sapatão.
- Só não gosto dos ativistas GLBT. 

- Estão querendo instalar uma ditadura gay!


- Júlia S.




Aquele Último

Certo dia, certo casal...
- Como assim? - disse ele meio avesso a conversas
- Apenas aceite.
- Certo.
- Afinal, eu quero terminar.
- E você costuma ser assim!? Só diz tchau e vira as costas...
- Fique tranquilo, cara.
- Continue, então... Explique-me, por favor, se for capaz.
- O que importa na vida de uma mulher não é o seu primeiro homem, mas o último...
- Último?
- É, aquele que não dá espaço para um próximo.
- E você ainda diz isso pra mim? Joga na minha cara que não tenho importância, afinal não sou seu último homem...
- Mas é! E você é sim, importante e especial. Sempre lembrarei de você como o último, meu bem. - tenta ela consolar, com um sorriso entre os lábios
- Então como termina comigo, se não dou espaço para um próximo homem?
- E eu por acaso disse que você não deixa espaço para um próximo romance?


   - Júlia


sexta-feira, 7 de junho de 2013

A Transtornada

Transtorno obsessivo compulsivo.
Transtorno de objetivo compulsório ----> :(
Transtorno subjetivo compulsivo (?)
Transtorno de sentido impulsivo.
Transtorno de sentimento explosivo.

Bipolar e dupla personalidade.
Ímpar e bi-identidade.
Impropriamente ímpar, e poli-propriedade.

Qualquer transtorno afetivo,
Afetuosidade transtornada.

Hipomania e depressão;
Mania de deprê
E hiper pressão.

Dependente e demente,
Da própria mente
E do que sente.

Química da cabeça,
Pó de uma reles presa;
Álcool de si em que se
Beba.
Últimas gotas em que duvidosamente
Se deleita,
E que vomita sua fome
De(s) ritmia... 

Bulímica, boêmica.



Esquizofrênica e autista.
Esquizofrenista e autêntica.



- Júlia S.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

Lhe Era Próprio

Bebia para viver
Cada último, penúltimo
Ou antepenúltimo instante;

Ficava sóbria para falecer
Em cada mais um segundo
Obstante.

Se descobria em cinzas
Mórbidas;
Se coloria em tintas
Lógicas;
Mas nada pinta em
Cores óbvias.

Se pintava para ser
Mais uma máscara disfarçante 
E divulgada
Por uma extraoficial beleza;

Se deslambuzava para conceder
Mais uma cara trajante
E ultrajada
Por qualquer oficial
Peleja.

Se despia e se sentia,
Seu corpo, sua pele
No fogo de um arrepio;

Se vestia e obtinha
Dos outros um reles,
Um tolo elogio (?)
Como quem a elege
Por uma tez 
Sem brilho,
Tez por tecido
Pela sensatez por
Um fio
Áspero ou macio?

Direcionado, mas sem sentido.
Com força, mas anulado.

Tinha um copo
Cheio, pois
Estava cheia do vazio.

Era sucinta,
Por se assustar
Com o suscetível...

E deliberava,
Para não debilitar-se
Sob o delírio.


- Júlia S.





terça-feira, 4 de junho de 2013

Adorar-te-ei

Adoro essa sua mania
De querer mudar o mundo,
Mais que isso, ser e tentar
E no final (nem sabes) 
Muda algum particular
Mundo, aqui ou acolá
Assim, a cá.

Adoro essa sua mania de amar,
Como se fosse tão fácil
Propagar o amor 
Em tudo.
Adoro quando um simples nada
Tu transformas em tudo.
Adoro quando um "não é nada"
Tu transformas em luto.
Mas adoro ainda mais,
Quando um luto
Tu transformas em luta,
E luta armada
Tu transformas em luta amada.

Adoro quando a pátria amada,
Tu transformas em esmerada -
Nação.

Adoro você ser assim,
Tão adorável
Sem querer nada (?)
Ou oito ou oitenta;
Oito deitado,
De preferência.

Pois então adoro
Essa sua sob medida;
Mas adoro ainda mais

Adoro esse seu jeito
De se vestir,
Vestindo-se com
A sua beleza.
Adoro esse seu jeito
De se se cobrir,
Cobrindo-se com a sua bandeira.
Mas adoro ainda mais
O seu jeito de
Se despir,
Despindo a sua alma
Nua.

Adoro essa sua maneira
Só tua.

Eu adoro esse seu jeito
Racional de querer dar
a Terra;
Quando também adoro
Esse seu jeito lunático
De querer ter a lua.

Adoro o seu jeito de encenar
Como se estivesse diante do espelho,
Sem saber sei lá se o seu palco é a rua

Ou se esconde num beco, 
Que como convém
É mais uma avenida da lua.

E cada buraco é uma cratera,
E cada cratera é a sua própria
Janela aberta.

E adoro essa sua janela
Semi-aberta, suficiente
Para emitir um facho de luz.
Adoro esse seu jeito de 
Sem juízo, sem juiz
Que me conduz;
E me confunde
Por um triz.

Adoro esse seu jeito
Sincero e verdadeiro
De ser atriz.

Adoro esse seu jeito maestro

Adoro esses seus lábios
Coloridos pelo batom vermelho;
E me gusta mucho
O seu espírito tingido
Pelo tom vermelho
E lilás
E preto
E o colorido da paz,
Do seu jeito.

Adoro isso, 
Fato insensato
Da sua voz
Cantarolando
Ser a nossa música
Da qual nem compartilhas

Pois adoro essa sua mania
De firmar em sua utopia,
E adoro que você
Seja a minha.

E enfim,
É assim,
Adoro esses
Afins que
É te adorar,
Afim de tu
Estar.


- Júlia S.





segunda-feira, 3 de junho de 2013

Elas Vão... Mas A Outra Fica

Não destema uma recusa,
Pois de tal ignorância
Eu tenho repulsa.

Meu problema não é
O choque entre as nossas peles;
Mas sim com a colisão do que há sob elas,
Que esse rostinho bonito
Também reveste,
Esse lado menos aprazível
Que a sua pessoa me sugere.

Ei, mas por favor,
Não é assim que se procede!
Se toque para me tocar,
Como a banda toca,
Meu amor.

Sempre assim,
Infortunadamente, 
Se eu te passar
A culpa (condenação) é minha;
Se me passas,
És a vítima
De uma doente.

Uma doente que representa
Uma minoria oprimida,
E maioria em estatísticas,
Que desviou o seu destino,
Que acabou com a sua vida -
Quem sabe eu sou uma vadia.

E se for o contrário,
Não é tão assim,
Caso raro.

Se por nove meses
Em meu ventre,
Eu carrego um bebê;
Pelo resto que me cabe de vida,
No meu sangue,
Carrego o meu sofrer.

E você já era assim...
Mas não precisa se afastar;
Apenas se cuida, e cuide
De mim.
Quem sabe a gente compartilhe
O mesmo enfim,
Mas não me repassando
Um ingrato fim.


- Júlia S.




domingo, 2 de junho de 2013

Ela

E quando achavam tudo obscuro,
Ela saiu  iluminando a rua.
E quando acharam que era um reflexo do sol,
Ela que emprestou sua luz à lua.
E quando se achava na sua,
Ela tomou uma mente que reflete,
Um agora desofuscado olhar,
Até então inerte.

E quando pensam
Que a sedução é um ato que se repete,
Ela se refaz em cada passo 
E acho que me faço 
(Ou desfaço?)
 Em cada flerte.

Não sei, sei lá
Se é o que parece.

Só sei que cada olhar,
Por maior que seja a incerteza,
É por justa causa e se merece.
Por dentro e por fora clareia
Sua beleza,
Acendendo a quem contempla
Essa lua que alvorece. 


- Júlia S.





Nossos

Poderia ter sido
A minha mãe, ou o seu pai
E hoje não teríamos nascido,
E os que nasceram não teriam direito
A um pouco de paz
Nem de andar no esquerdo.
Poderia ter sido a minha avó
Ou o seu avô
Que hoje estariam se contentando com o dó,
E se descontentando com a dor.
Estariam dando a própria voz,
Por aquele que forjadamente
E para sempre
Se calou.
Sepultado pelo próprio algoz
(Velado pelo diabo)
E quem se importa
Nunca mais então
O encontrou.
Não poderia ter sido,
Mas foi.
Um colega ou amigo.
Um repórter ou o nosso tio.
Acima de tudo,
Foi um filho.
Ou filha.
Sofreu de aborto compulsório
E tardio.
Junto quem sabe,
Foi um neto
Que poderia ter nascido
Junto com o nascimento daquilo
E sendo assim,
Com um pouco da justiça que as cabe;
Contudo, cantam tristes
Em forma de artigo
Para quem não o sabe.
No que dançaram sem saber,
Sem querer,
No crepúsculo da tragédia
Cantam aquilo que se caracteriza
Como epopeia.

Tantos afetos acabados
Pelo mesmo desafeto desse
Fato
Interrompendo fetos
E outros filhos
Que sequer viram os netos
Dos seus pais, do seu país:
Cada progresso esmerado;
Cada fato idealizado e realizado.

Não aquele fato de outrora
De quem agora chora
Um fato
Sem carinho,
Sem padrinho,
Sem afilhado
E sem filho.



- Júlia S.