domingo, 2 de junho de 2013

Nossos

Poderia ter sido
A minha mãe, ou o seu pai
E hoje não teríamos nascido,
E os que nasceram não teriam direito
A um pouco de paz
Nem de andar no esquerdo.
Poderia ter sido a minha avó
Ou o seu avô
Que hoje estariam se contentando com o dó,
E se descontentando com a dor.
Estariam dando a própria voz,
Por aquele que forjadamente
E para sempre
Se calou.
Sepultado pelo próprio algoz
(Velado pelo diabo)
E quem se importa
Nunca mais então
O encontrou.
Não poderia ter sido,
Mas foi.
Um colega ou amigo.
Um repórter ou o nosso tio.
Acima de tudo,
Foi um filho.
Ou filha.
Sofreu de aborto compulsório
E tardio.
Junto quem sabe,
Foi um neto
Que poderia ter nascido
Junto com o nascimento daquilo
E sendo assim,
Com um pouco da justiça que as cabe;
Contudo, cantam tristes
Em forma de artigo
Para quem não o sabe.
No que dançaram sem saber,
Sem querer,
No crepúsculo da tragédia
Cantam aquilo que se caracteriza
Como epopeia.

Tantos afetos acabados
Pelo mesmo desafeto desse
Fato
Interrompendo fetos
E outros filhos
Que sequer viram os netos
Dos seus pais, do seu país:
Cada progresso esmerado;
Cada fato idealizado e realizado.

Não aquele fato de outrora
De quem agora chora
Um fato
Sem carinho,
Sem padrinho,
Sem afilhado
E sem filho.



- Júlia S.







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