Da última gota,
Ficou seca.
Afogada no sangue
De sua polpa
Não poupada.
Forjaram-na
A não ser mais
A mesma.
Ou não ser ela mesma.
Sugou. Murchou.
Seu suco foi usurpado -
Até a última gota -
E vomitado.
Vômito jogado
Tanto como ela se jogara
No liquidificador -
Sem culpa.
De tanto gelado,
Essa fruta não conhecia
Mais o calor.
De tão bicada,
Chupar aquela fruta
Ninguém queria;
De tão apalpada,
A fruta já estava amassada.
De tão amassada,
Sua casca não valia -
Estava coberta por uma tez
Rasgada de feridas.
De descascada,
Aquela fruta
Era macia.
Mas não era sua.
De tão babada,
Aquela fruta
Se lambuzara
Era e/ou estava
Suja.
De suja,
Lhe foi tirada
A merda dita,
Sob a pia.
Aquela fruta de tão picada
Foi reduzida a uma papa.
De tão chupada, foi reduzida
A um caroço que não germina.
De passada a faca,
A fruta já não tinha
Mais passado nem pesar
Por ser partida.
Por estar passada,
Aquela fruta
Já não renasce
De uma flor;
Aquela fruta não frutifica.
Vegetou -
Pode passar por ela,
Que não sentirá mais dor...
Nem primavera.
Aquela fruta já passou...
De sua época.
Aquela fruta já não é mais
Dela, não é de flores,
Nem de floresta.
É de (te) mato!
É de caída e atropelada,
No asfalto -
Foi para a pista.
Essa fruta só pode
Render frutos.
Será?
Da última gota, ficou seca...
E essa fruta em pomar?
Essa fruta em poema,
Essa fruta pura,
Essa fruta puta...
De poesia?
Essa fruta não está frita;
Elá é estéril de estupro.
Essa fruta, doce ou cítrica,
Descarrega do seu ventre todo o luto,
Com as sementes plantadas neste chão
Até a altura - por raízes, troncos, MÃOS...
Pelas frutas!
Frutas frias,
Ou que nasceram com
O verão em seu primeiro dia.
Frutas mordidas em sabor -
Dilaceradas não mais...
Frutas de amora,
De amor, amores...
Frutas de "amorais"!
Frutas vermelhas,
Amarelas ou pretas!
Frutas graúdas,
Ou que sejam
Miúdas!
E isso não é uma feira.
Regadas,
Não mais renegadas;
Polinizadas, não mais
Policiadas -
Frutas!
Frutíferas!
- Júlia S.
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