quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Vida de Inseto

Vivia sob a fuga,
Morreria - e morria a cada dia -
Sem saber de quem fugia:
De si mesma. De ser fulgida.
Longe de ser fugaz -
Sua fuga não era corrida;
Estava estagnada, inerte,
Formigando e furtiva.

E se só formigava,
Mas não doía,
É porque estava dopada
De tanta triste anestesia. 

E a dor só formigava...

Formigava em sua carne e alma,
Como várias formigas
Aglomeradas 
Desbaratando uma reles barata.

Furtiva. E furtada.
Furtada a cada dia.
Sob assalto sem sobressalto.
Sob assassinato sem homicida.
Sob suicídio sem alma perdida,
Sob uma sobrevida.

Sob as sobras do jantar das formigas.

As mesmas que lhe fizeram cortes e se regaram com 
O derrame -
Não de sangue, mas de vida e espírito vazantes.
Está vazia. 
Sua ferida não está viva, apenas crua.
E sua carne já não arde - 
Está pútrida.

Vida assim de inseto não isenta. Nem a pura.

Lançai seu voo, para não
Ser esmagada.
Não engula essa naftalina.
Metamorfoseie-se, barata.



- Júlia S.



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