Desminto.
Se achas que de ti
Uma costela foi tirada,
Pois saiba que de mim
Fui arrancada.
Mutilaram meu clitóris;
Minha fresta foi estuprada;
Incendiaram meu útero;
Enforcaram meu pescoço;
Assassinaram minha alma;
Coisificaram meu corpo.
Não raro cortaram minha língua;
Mas aos poucos,
Restituída,
Eu digo, seu moço:
Não sou fruto da sua fratura;
Renasço das cinzas
Pois vim de minha carne pútrida -
Não de seu osso.
Você que veio das minhas entranhas,
E nas minhas entranhas interveio.
Se abasteceu de meu leite amoroso
- Algo em mim não pulverizado -
E jorrou em meu rosto
Cada gota d'água rebentada por seu escracho:
Seu cuspe, seu vômito,
Seu leite de cobra que chamas de gozo.
Jamais chorou
Pelo (meu) sangue derramado.
Há quem diga que consistes em barro -
Eu digo que deitou e rolou em minha lama lancinante,
Cagou e andou pro meu drama constante.
Pois fora tu
Que me lançaste a merda,
Que me atiraste pedras,
Que me cagaste (tuas) regras.
Sou eu, sou elas.
Em carne, osso, pele, alma, gozo -
Não em alheia costela ou esboço.
Sou mulher,
A primeira,
Segunda ou terceira;
Sou de quinta.
Sou milhares,
Sou mulheres,
Sou minha.
So(u)frida.
Sou Eva condenada,
Sou Maria
Encubada
E de incubadora incumbida,
Sou Lilith demonizada,
Sou Madalena apedrejada,
Enquadrada como santa ou vadia.
Tirai do caminho
Vossa passagem bíblica
Para dar passagem à minha vida!
Tirai vossos rosários
De meus ovários.
Amém!
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