E quando o mundo parece desabar
Na minha cabeça,
Ou quando pretendo que esta exploda
Para que assim algo eu esqueça;
Quando sem chão,
Me resta um teto em ruínas,
Que para o céu não me concede
A graça de tal visão;
Quando o que era belo
Já não tem mais beleza,
Quando o que eu afirmava
E sabia, virou a mais cruel
Incerteza
Quando a minha euforia
E outras coisitas
Viram réus da tristeza;
Aquele cálice tão doce
Desce quadrado como ácido
Corroendo o que há dentro de mim
E o meu drama
Já não consegue mais ser sistemático
Tampouco delimitar o seu fim;
Então, o que faço?
Simplesmente,
É claro,
Eu pego aquele velho retrato.
Cuja realidade, caráter
E estado, ficou assim,
Na graça de um flash,
Estagnado.
Ou melhor colocando,
Conservado.
Carrego neste presente
O direito daquilo que se sente
E não mente, um pedaço
Do passado.
Outrora aprazível,
Estimado eternamente
Naquele velho retrato,
E o tal atualmente
Idealizado.
Não se trata de um retrato
De quem se foi e não é
Simplesmente por não existir
Mas por não ser, mudando junto
O meu sentir,
Descaracterizando o meu sorrir.
É um retrato de algo
Um personagem realizado
Um ideal, um prazer
Personificado.
É aquele meu ídolo,
Que quiça (será?) também fora uma farsa,
Mas essa em mim não dói.
E eu sei lá seu real princípio,
Eu sei do seu ideal ofício.
Não custa nada fingir que consola
A minha dor
Diante do espelho, do meu reflexo
Ou dos cacos dessa vida,
Para quem já inventou o amor
E fez tanta utopia.
É esse retrato com o qual converso,
Que me ouve,
Chame-me de louca, esquizofrênica, noiada, autista
Quem for.
Dialogo melhor com a poesia.
E para quem pensa que ele não me responde,
Ele até me empresta sua voz!
Lamuria em suas músicas
Aquilo que enfrento como algoz.
Ou quem sabe em poemas...
Tudo vale a pena, quando a emoção
Não é pequena.
- Júlia S.
Nenhum comentário:
Postar um comentário