Em um bairro de classe média, uma mãe:
- Eu não quero um dia ouvir meu filho dizer que vai ali na esquina comprar maconha.
Em uma periferia ou favela, outra mãe:
- Eu não quero ouvir dizer que meu filho vai ali na esquina e nunca mais voltar.
Em lados opostos também estão, policiais que caçam traficantes, e outros que lavam (e molham) as mãos. Políticos que se mantêm com sua ética, e outros com a moral que não têm.
Mas o mais marcante mesmo, é a oposição entre quem entrou nessa jangada. Ou não.
Burgueses que quiça se roubaram a liberdade? Que se privaram de uma possível felicidade?
O que significa isso significa?
Diante de desafortunados, de filhos dos coitados
Que têm roubada a inocência e provavelmente a vida.
Que nos dias de sol,
O astro rei que os tiraram,
Podem ser pescados como peixes no anzol.
Que tomar uma luz pode ser, apenas para o além,
Seu farol.
E que nas noites obscuras,
Matar para não morrer,
Entregar a vida para viver,
Parece a única cura
Desse sofrer.
Entre abastados e desabastados,
Sim ou não usuários,
Sim usurpados
Naquilo que se pode levar,
Seja o corpo, o bolso ou a alma.
Levados.
Como sardinhas, enlatados.
E as embalagens, rotulados.
De um lado, onde tudo começou.
Do outro, aquilo que nunca terminou.
Como se falar de ética para quem já trabalha ilegalmente?
Faz do seu ofício o que bem entender, e acrescenta no seu produto o que quiser...
Se não fala da ética desértica,
De quem foi escolhido diretamente?
Que faz de uma nação, não sua usuária
Mas sua usada,
Drogada.
Jogada.
Manipulada.
Mutilada sem ver a ferida.
Sem olhar sequer para outra esquina.
Ou para uma favela qualquer ou periferia.
Como falar de segurança,
Com tantas balas (e pessoas) perdidas?
Como falar de limites,
Se a desordem é permitida
E a ideia da linha final não é transmitida?
Como falar de preocupação,
Se muita gente é esquecida?
Como falar do certo?
Se está tudo tão incerto,
Se nada escapa do imperfeito,
E o mal continua perto...
Como falar em ideologia,
Discutir sociologia,
Se ainda vendem ilegalmente
Tanta hipocrisia?
Como falar de baseado,
Se não há o baseado em quê?
É muito fácil,
Por a culpa num cigarro.
É muito fácil estar errado,
Quando você está chapado.
E assim, talvez nem morra pelo pulmão.
Mas morre pelas costas,
Morre no vão
Do que ninguém verá.
Morre no chão
Ao ninguém dará.
- Júlia S.
Nenhum comentário:
Postar um comentário