quinta-feira, 2 de maio de 2013

De Algum Lado... Quiça de Muro Disfarçado

Em um bairro de classe média, uma mãe:
- Eu não quero um dia ouvir meu filho dizer que vai ali na esquina comprar maconha.
Em uma periferia ou favela, outra mãe:
- Eu não quero ouvir dizer que meu filho vai ali na esquina e nunca mais voltar. 

Em lados opostos também estão, policiais que caçam traficantes, e outros que lavam (e molham) as mãos. Políticos que se mantêm com sua ética, e outros com a moral que não têm.

Mas o mais marcante mesmo, é a oposição entre quem entrou nessa jangada. Ou não.

Burgueses que quiça se roubaram a liberdade? Que se privaram de uma possível felicidade?

O que significa isso significa? 
Diante de desafortunados, de filhos dos coitados
Que têm roubada a inocência e provavelmente a vida.

Que nos dias de sol, 
O astro rei que os tiraram,
Podem ser pescados como peixes no anzol.
Que tomar uma luz pode ser, apenas para o além,
Seu farol.

E que nas noites obscuras,
Matar para não morrer,
Entregar a vida para viver,
Parece a única cura
Desse sofrer.

Entre abastados e desabastados,
Sim ou não usuários,
Sim usurpados
Naquilo que se pode levar,
Seja o corpo, o bolso ou a alma.
Levados.
Como sardinhas, enlatados.
E as embalagens, rotulados.

De um lado, onde tudo começou.
Do outro, aquilo que nunca terminou.

Como se falar de ética para quem já trabalha ilegalmente?
Faz do seu ofício o que bem entender, e acrescenta no seu produto o que quiser...
Se não fala da ética desértica,
 De quem foi escolhido diretamente?
Que faz de uma nação, não sua usuária
Mas sua usada,
Drogada.
Jogada.
Manipulada.

Mutilada sem ver a ferida.
Sem olhar sequer para outra esquina.
Ou para uma favela qualquer ou periferia.

Como falar de segurança,
Com tantas balas (e pessoas) perdidas?

Como falar de limites,
Se a desordem é permitida
E a ideia da linha final não é transmitida?

Como falar de preocupação,
Se muita gente é esquecida?

Como falar do certo?
Se está tudo tão incerto,
Se nada escapa do imperfeito,
E o mal continua perto...

Como falar em ideologia,
Discutir sociologia,
Se ainda vendem ilegalmente
Tanta hipocrisia?

Como falar de baseado,
Se não há o baseado em quê?

É muito fácil,
Por a culpa num cigarro.

É muito fácil estar errado,
Quando você está chapado.

E assim, talvez nem morra pelo pulmão.
Mas morre pelas costas,
Morre no vão
Do que ninguém verá.
Morre no chão
Ao ninguém dará.


- Júlia S.



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