domingo, 26 de maio de 2013

Olhe por Mim

Olhe para as minhas marcas.
Não são marquinhas de biquini.
São marcas sob sol não de uma praia,
São as marcas do meu cotidiano, de feridas
Das vaias.
Olhe pro meu buraco.
Não, não é o buraco da minha vagina.
É aquele buraco da alma,
De tiros sutis
Que recebo todo santo dia,
Que perfura a minha calma
Que vai no buraco do ralo
Da pia.
Olhe para a minha carne.
Não, não é aquela carne boa de olhar, apreciar, pegar:
Coxas, seios, bunda...
É uma carne pútrida,
Mas que ainda não se fez decompor
No meio de tanta dor, se refaz no fazer
Da luta;
É aquela carne sujeita a fraquezas,
Porém não me deixa de ser pura.
Olhe para a minha pele.
Não, não é um convite para o desejo,
Uma pele perfeita, casca de pêssego.
É mais que casca, é um reflexo
Do miolo, da semente,
Do meu fruto.
É uma pele que em meio a trapos
Traja um particular(?) luto.
Olha para o meu suor.
Não é resultado de quatro horas
De academia esculpindo o corpo,
Ou de meia hora servindo o meu corpo
Em troca de um (in)certo gozo.
É resultado da labuta,
É o que cobre essa minha tez
Nua.
Que me banha na lua.
É a água que cai, que molha,
A rua
Dessa gostosa que passa.
E já que hei de passar,
Olhe para os meus pés.
Estão calejados, e não
Por ter sambado, "funkeado"
Ou - claro! -
Ter andado por um dia inteiro
Em cima de um suposto salto alto.
É por simplesmente ter andado -
Caminhado - num caminho sem carinho,
No quente do asfalto.
Olhe para o meu sorriso.
Não é um sorriso plastificado,
Para vender pasta de dente, ou seja qual for o jogo;
Quem sabe esperar que comprem minha pseudo-felicidade,
Sem haver troco.
Olhe pro meu rosto.
Não uma carinha bonita,
Mas uma cara a tapa,
E a face da minha vida.
É um sorriso que celebra o direito de ter esperança,
E aquilo que foi conquistado.
Um sorriso cheio de dentes não apenas para mostrar,
Mas para morder quando precisar -
E há de ser precisado.
Olhe para o meu peito.
Não é aquele que a natureza me deu
Para alimentar um filho que não é só meu;
Não é aquele silicone que o doutor implantou
Para o seu tesão, para acobertar um câncer que passou.
É aquele peito sobre um coração
Que segue batendo 
E lutando pelo seu sentimento.
Próximo ao meu pulmão,
Que segue disputando pelo ar.
É aquele peito para lutar
De quem tem pleito a continuar,
De quem tem raça - humana - seja branca, negra ou mulata.
É um peito que em outrora 
Já me foi oferecido
Para no leito me aconchegar;
Isso sim, é uma coisa gostosa!

Tá certo,
Se quiser, olhe para mim quando eu passo.
Mas não se esqueça de olhar
Por mim quando eu faço.
Mas não vá pensando que eu sou fácil...
Não vá abusando da força de um sexo frágil.

Olhe para o meu suposto rótulo.
É a minha bandeira!
Olhe para mim como um todo,
É essa de fato a minha beleza.



- Júlia S.



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